Faculdade de Comércio da Associação Comercial de São Paulo já formou mais de 600 profissionais; 42,3% tiveram ganho de renda
Por Márcia De Chiara
11/03/2025 | 09h30
Atualização: 11/03/2025 | 12h08
11/03/2025 | 09h30
Atualização: 11/03/2025 | 12h08
A falta de mão obra qualificada que atormenta atualmente os varejistas brasileiros já era foco de preocupação da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) cinco anos atrás. Recente pesquisa feita pela consultoria PwC com executivos do varejo brasileiro revela que a falta de trabalhadores qualificados é vista hoje como a principal ameaça ao setor para este ano na opinião de 41% dos executivos. No entanto, o pontapé inicial da ACSP para tentar virar o jogo foi em 2020, quando começou a funcionar dentro da sede da entidade, localizada rua Boa Vista, no centro da capital paulista, a Faculdade de Comércio (FAC).
Hoje, as unidades da instituição de ensino presencial e a distância estão espalhadas por 130 associações comerciais em 13 Estados do País. No momento, a faculdade tem 2,3 mil alunos matriculados. Mantida pela entidade, a faculdade já formou 670 profissionais em dez cursos de graduação e 20 de pós-graduação. Eles abrangem desde a administração básica de uma loja até transformação digital do varejo.
Ana Cristina de Castro Aschermann, de 59 anos, por exemplo, está indo para o segundo curso. O primeiro foi uma graduação, concluída em 2023, em gestão de Recursos Humanos. Não chegou a atuar na área e o obstáculo para ser contratada, na sua opinião, foi a idade.
Ana Cristina de Castro Aschermann faz o segundo curso na Faculdade de Comércio da Associação Comercial de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão Em agosto do ano passado, iniciou uma pós-graduação em marketing digital. No momento, ela aplica os conhecimentos digitais adquiridos no curso para transformar um site de agricultura sustentável, criado pelo marido, em um negócio rentável.
No final deste ano, quando concluir a pós-graduação, a intenção da aluna é buscar uma colocação no comércio na área de marketing digital.
“O varejo físico precisa de uma atualização digital urgente”, diz.
Já Emerson Barros, de 24 anos, conseguiu dar um salto na carreira nos últimos dois anos. Ele trabalhava como caixa numa padaria, quando iniciou a graduação em sistemas para internet. Na metade do curso conseguiu uma vaga na área administrativa na própria faculdade e agora migrou para a área de Tecnologia da Informação (TI).
Meu salário hoje é o dobro do que eu ganhava como caixa da padaria Emerson Barros A intenção de Barros é seguir carreira como desenvolvedor na web para o varejo.
Levantamento feito pela FAC com os alunos para avaliar a empregabilidade revela que 42,3% deles trabalhavam no comércio antes de cursar a faculdade e 26,9% estavam na área de serviços.
Mais da metade dos alunos (64,1%) ganhava até dois salários mínimos por mês, R$ 3.036 pelo valor atual do mínimo. Depois do ingresso na faculdade, 42,3% dos estudantes declararam que alcançaram ganhos de renda, mas não como Barros que dobrou o salário. Mas 10,3% conseguiram engordar o salário em mais de 30%.
E 53,8% dos que aumentaram o salário acreditam que a faculdade contribuiu para esse ganho, enquanto 25,6% disseram que os cursos ajudaram “em parte”. Apenas cerca de um quinto dos estudantes disseram que a faculdade não contribuiu para o crescimento da renda.
Como nasceu a ideia? Wilson Rodrigues, diretor-geral da FAC e membro do Conselho Estadual de Educação, conta que a ideia de ter uma faculdade com cursos de nível superior voltados para o comércio surgiu a partir da constatação de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).Os resultados apontavam em 2019 que comércio era o setor que mais empregava e o que menos qualificava a sua mão de obra. Portanto, havia uma lacuna a ser preenchida. Com experiência no ramo da educação — a família de Rodrigues criou Uniderp no Mato Grosso do Sul, vendida em 2007 para o Grupo Anhanguera —, o diretor da FAC decidiu levar à frente a ideia de criar uma faculdade de comércio. O projeto foi encampado pela ACSP e não tem fins lucrativos.As mensalidades são subsidiadas pela entidade. Hoje, há convênios com 45 empresas do varejo que bancam parte ou integralmente os cursos para os seus funcionários. Os cursos presenciais de bacharelado, por exemplo, têm mensalidades que variam de R$ 250 a R$ 420. A maioria dos alunos é da classe C e do sexo feminino.“É a única faculdade de comércio no Brasil que mantém cursos de nível superior”, diz Rodrigues. Segundo ele, o que existia até então eram cursos técnicos voltados para o setor, oferecidos pelo Senac e Sebrae.“Ensino superior e pós-graduação, focados em comércio, só tem a nossa.” O diretor da faculdade conta que a instituição atingiu nota máxima na avaliação do Ministério da Educação entre as faculdades que integram o sistema federal de ensino. Esse critério inclui as universidades privadas e federais do País.
E A faculdade começou em 2020 com 90 alunos e aulas presenciais. Em 2021 foi autorizada a funcionar com ensino remoto. O próximo passo, segundo Rodrigues, será criar um braço da faculdade com cursos de extensão focados em tecnologia voltada para o varejo, como Inteligência Artificial (IA).
Fonte: O Estado de São Paulo