Nestes anos, a ACSP produziu feitos sem os quais o empresariado brasileiro não lograria êxito em sua trajetória
No dia 7 de dezembro de 2024 a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) completou 130 anos. Criada em 1894 por Antônio Proost Rodovalho, da poderosa Companhia Melhoramentos, a entidade firmou-se como uma das instituições mais importantes do Brasil, ao articular os interesses dos empreendedores na defesa da livre iniciativa e dos valores democráticos. E o fez com louvor!
A associação produziu feitos sem os quais o empresariado brasileiro não lograria êxito em sua trajetória:
* A instalação, no final do século 19, de alfândega seca na capital paulista e da primeira agência do Banco do Brasil em São Paulo;
* Criou o Diário do Comércio, em 1924, com notícias sobre gestão, inovação, marketing, leis, tributos e pesquisas sobre o consumidor, com análises do Instituto de Economia Gastão Vidigal, também da ACSP;
* Em 1932, seu presidente Carlos de Souza Nazareth liderou o movimento paulista contra o regime de Getúlio Vargas exigindo uma nova Constituição, no que ficou conhecido como Revolução Constitucionalista. Na época, as forças de São Paulo lutaram contra o Exército Federal, o que levou à campanha, liderada pela ACSP, chamada Ouro para o Bem de São Paulo, por meio da qual a sociedade civil doava dinheiro e joias para ajudar as tropas paulistas. Embora Vargas vencesse, a ação paulista foi decisiva para ele promulgar a Constituição de 1934, atendendo às reivindicações de São Paulo e da Associação Comercial de São Paulo;
* Em 1955, a ACSP, que centralizava informações sobre o comércio, fez acordo com lojistas e inaugurou o primeiro serviço de proteção ao crédito (o SCPC), cujo trabalho era o de prestar informações de crédito (adimplência e inadimplência de pessoas físicas ou jurídicas). Em 2010, o SCPC torna-se a gigante Boa Vista Serviços;
* Na década de 1980, a ACSP articulou politicamente um ambiente normativo favorável aos pequenos empreendedores. Por meio da talentosa liderança de Guilherme Afif Domingos, a ACSP colaborou fortemente para a criação do Estatuto da Pequena Empresa. Afif, que se tornou deputado constituinte, foi autor da emenda constitucional que garante tratamento diferenciado às pequenas empresas. Assim, a defesa do pequeno empreendedor ganhou relevo constitucional por meio do art. 170 da Constituição federal de 1988: “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (…) IX – tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no País”;
* Ainda na década de 1980, a ACSP criou o Fórum de Jovens Empreendedores, celeiro de empresários e políticos de destaque;
* Como resultado do art. 170 da Constituição de 1988, nos anos 2000 a entidade participou da criação do Simples Nacional, permitindo às pequenas e microempresas trabalhar com menos burocracia e menor carga tributária. Hoje, o Simples Nacional, que reúne cerca de 22 milhões de aderentes – principais responsáveis pela geração de emprego e renda no Brasil –, corre forte perigo de ser arruinado pela polêmica reforma tributária;
* Num país marcado por profundas desigualdades sociais e mão de obra com severos problemas de produtividade, durante a gestão do competente empresário e político Alfredo Cotait Neto a ACSP fundou, em 2020, a Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), credenciada pelo Ministério da Educação com nota máxima e cujo propósito é a excelência educacional na formação de profissionais atualizados com as habilidades técnicas e comportamentais exigidas pelo mercado de hoje, definido pela revolução digital. Também na gestão de Cotait, a ACSP articulou a aprovação da importante Lei da Liberdade Econômica e viu sua empresa Boa Vista S.A. (antes SCPC) abrir capital numa operação que garantiu robusta sustentação econômica à entidade. Além disso, expandiu, sob o comando de Ana Cláudia Cotait, o Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura, reforçando o empreendedorismo feminino. A ACSP é presidida hoje por Roberto Ordine, defensor da revitalização do Centro de São Paulo e estudioso da reforma tributária.
O mundo vive uma terrível crise (a pior, talvez): a crise de referências. Em meio a isso, a ACSP, nestes anos, pode se orgulhar de colecionar grandes referências em sua gestão: Antonio Proost Rodovalho, Carlos Nazareth, Afif Domingos, Romeu Trussardi, Alencar Burti, Lincoln da Cunha Pereira, Alfredo Cotait, Gilberto Kassab, Rogério Amato, Ives Gandra Martins, Marcel Solimeo, Nilton Molina, Luiz Roberto Gonçalves, Andrea Matarazzo, Arab Zakka, Flávio Rocha, Edy Kogut e Roberto Ordine, entre outros que compõem uma verdadeira plêiade de gigantes na defesa da livre iniciativa brasileira. Por mais 130 anos de uma história respeitável!
Fonte: O Estado de São Paulo. Leia a matéria original aqui
Economista (UFMG, USP e Harvard), consultor econômico e de ensino superior, é diretor da Faculdade do Comércio.
